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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Dossiê Venezuela

Desde que Hugo Chávez se tornou presidente da Venezuela muitas coisas foram especuladas a respeito. Muitos o amam, muitos o odeiam. Para muitos ele representa uma das principais resistências ao neoliberalismo e para outros muitos apenas mais um ditador populista cheio de retóricas vazias.

O que mais me interessa aqui não é desfiar sobre qualquer tipo de julgamento a respeito de Chávez ou mesmo seu governo. De antemão já deixo claro minha posição. Não o amo nem o odeio. Ao mesmo tempo que não o acho santo, não o considero um ditador, longe disso, por sinal. Como todo processo de mudança, seu governo também comete erros. Não são infalíveis. No entanto acredito na força simbólica e política que esse governo venezuelano vem estabelecendo no cenário mundial nos últimos quase 10 anos. Que muitos dizem ser por meio de uma ditadura. Eu discordo. Ele está sendo eleito. Eleições e referendos são aplicados e ele já saiu vitorioso e derrotado, como em qualquer democracia. Porque será que as matérias que saem no noticário não tratam o governo norte-americano como uma ditadura?? O que seria o consenso de Washington?? O que seria o Ato Patriótico nos EUA?? Acredito ser muito pior e ditatorial. Apesar da grande desculpa anti-terror.

Sei que minhas leituras podem estar dando impressão de estar fortemente a favor de Chávez, mas não é a verdade. O que acontece é que sou e estou contra a maneira como se faz jornalismo hoje em dia. Antigamente "podíamos" entender, no entanto, em tempos de internet, não acredito ser mais possível ser tão discarada a mentira e a manipulação de dados e omissão de informação nos noticiários. É parcialidade demais pro meu gosto!



Não consigo ver imparcialidade numa matéria desse tipo. O tempo todo a notícia é ressaltada pela visão da "derrota" de Chávez, que perdeu em cidades importantes. Peraí!! Seu partido venceu em 17 dos 23!!!!!!! Como diria o Luiz Carlos Azenha em seu blog:

"A mídia brasileira prefere esquecer, mentir, omitir ou distorcer: Chávez acaba de "perder" eleições regionais em que candidatos apoiados por ele venceram mais de 70% das prefeituras e "apenas" 17 de 22 governos regionais. Isso com o petróleo em baixa e a inflação em alta, depois de 10 anos de desgaste no poder.
A mídia brasileira prefere esquecer que Correa reformou a Constituição com apoio de mais de 60% dos votos, que Morales foi mantido no poder com 66% de "sim" e que Lugo chegou ao poder prometendo renegociar o acordo de Itaipu e fazer a reforma agrária.
Independentemente da permanência destes líderes no poder, o que os levou até lá veio para ficar: a defesa de interesses nacionais (deles) que em alguns casos se contrapõe a interesses de empresas brasileiras."

E para tentar mostrar que a questão aqui não é estar a favor ou não de Chávez e sim contra o tipo de jornalismo sem ética que se pratica e não está mais dando pra ser praticado em nosso tempo... segue um pouco de material audiovisual de boa qualidade para se ver, pensar e discutir. Ver que o buraco é muito mais embaixo e que o que essas grandes emissoras dizem tem muito dinheiro por trás para dizer o que eles dizem. E não apenas uma mídia informativa imaparcial para o bem da nação.

Como não quero ficar estabelecendo minhas posições políticas pessoais e sim deixar com que os outros meios de comunicação nos façam refletir sobre o que vem ocorrendo em torno dos acontecimentos que envolvem a Venezuela, política, econômica, cultural e socialmente, seguem alguns vídeos e filmes.

Fiz um apanhado de vídeos, filmes, reportagens e entrevistas que trataram dos principais eventos envolvendo o governo de Hugo Chávez. Principalmente a respeito dos fatos ocorridos na tentativa de golpe ocorrido em 2002.

Fiz apenas uma seleção do que poderia nos ajudar a refletir melhor sobre os fatos e ver como nossas opiniões às vezes esbarram na desinformação irrefreável que os grandes meios de comunicação nos proporcionam. Perceber também como há muito mais informação entre o céu e a terra que nossa vã filosofia não explica. Serve para percebermos como as fontes saídas dos meios de comunicação são extremamente tendenciosas e obtusas. Quando não agindo de extrema má fé.

Contudo, espero aqui, não levantar bandeiras e defesas cegas, mas sim, pretendo que com esses vídeos e informações o debate aumente em torno do papel e das responsabilidades dos meios de comunicação em nossa sociedade. A discussão em torno da ética precisa ser retomada. Estamos soltos em meio a uma selva onde tudo pode ou nada pode. Acredito que não sejam as únicas opções.

Novamente, o que precisamos fazer é distribuir mais e novas informações para o maior número de pessoas possíveis. Nós, que nos informamos, corremos atrás de ler e ver o que não está na grande mídia, ainda somos uma minoria. Às vezes parece que não, mas ainda somos sim. Andamos nas ruas, conversamos com as pessoas e só ouvimos assuntos que estão sendo tratados pelos "principais" canais de televisão, de jornal e de rádio. É o jogo do brasileirão, a briga da Luana, tiroteio não sei aonde, etc, etc, etc... Não que esse tipo de entretenimento que eu considero barato não tenha o seu lugar. Não acho que todas as pessoas devam o tempo todo conversar sobre filosofia e política "avançada", mas acho que estamos, sim, perdidos. Zumbis) Quando temos assuntos na boca do povo que trate de assuntos que deveriam interessar mais as pessoas, a meu ver, como questões culturais, políticas, sociais, econômicas, sociais, etc... conseguimos realizar nossas vontades e impedir que "saqueadores políticos e econômicos" tomem conta de tudo que é nosso. Nossa liberdade.

Muitos podem dizer: "Ai cara, que papo chato esse. Coisa pra baixo. A gente tem que estar pra cima. Ver as coisas pelo seu lado positivo. Tudo na vida tem seu lado bom e ruim, cabe a gente escolher como quer ver...."

Eu discordo e parafraseio Saramago: "Não sou pessimista. O mundo é que está péssimo". Essa frase por sinal vi num post feito por um amigo meu em seu blog Sangue de Barata. Veio a calhar o texto sobre esse grande escritor português. Não acredito nesse mundo bom. Que ele tem coisas maravilhosas, com certeza sei que tem. A questão é que não estamos felizes de verdade. Para confirmar o que estou dizendo basta sair as ruas e ver a cara das pessoas. Sejam ricos ou pobres.

Mas para parar de falar começar logo com os filmes, segue um clássico e muito conhecido sobre a manipulação dos principais meios de comunicação da Venezuela para ajudar no golpe que tiraria Hugo Chávez do poder por dois dias.

A Revolução não será Televisionada
(legenda em português)


Segue um bom e curto resumo sobre o filme aqui. (para que o post não fique imenso)

Esse filme causou tanta discussão e desconforto (para os que odeiam Chávez) que foi feito um outro filme para rebater todas as acusações feitas pelos diretores irlandeses no "A revolução não será televisionada". O filme se chama "Radiografia de una mentira". Ele é o registro de um seminário dado em uma universidade venezuelana pelos dois produtores do documentário, Wolfgang Schalk e Thaelman Urgelles, com a presença de alguns outros convidados.

Os diretores alegaram que o filme irlandês não passava de uma peça de propaganda financiada pelo regime de Chávez e que, através de manipulações de imagens, inversões cronológicas, utilização de imagens antigas, colagem e, principalmente, gravíssimas omissões informativas, tentaria passar para os espectadores uma imagem inocente do presidente.

Esse vídeo não é achado em nenhum outro lugar a não ser no Google Vídeo. Não se acha em torrent, em programas p2p, sites. Muito menos legenda em português. Mas vale a pena ver mesmo em espanhol com legenda em inglês (é bem tranqüilo) para se ter uma noção dos contra argumentos de quem está do lado contrário ao governo de Chávez. Quem não tiver tempo ou paciência para ver aqui ou no Google Vídeo mesmo, pode deixar baixando. É simples. No canto direito da tela é só clicar em "Download Vídeo - iPod/PSP". Podendo ver depois com mais calma.

Radiografia de uma Mentira
(Em espanhol com legenda em inglês)


Renato Rovai (um dos criadores da Revista Fórum e um dos jornalistas mais informados sobre os acontecimentos na Venezuela após o golpe em 2002) deu uma entrevista à TV Câmara em 2007, quando estava lançando o seu livro "Midiático Poder" sobre a força e influência dos meios de comunicação na tentativa de destituir Hugo Chávez do poder. Vale conferir para se ter uma noção maior dos fatos ocorridos naquela época e também detalhes da situação local e como ela difere e muito de como é retratada pelas grandes mídias.

Primeira parte 1/3 (dividido em três partes)


segunda parte 2/3

terceira e última parte 3/3

Nesse mesmo canal já foi debatido o assunto por outros especialistas. Para quem quiser assistir, segue o link.

Debate sobre o governo de Hugo Chávez.

No debate produzido pela TV Câmara, o documentário é analisado por Gilberto Maringoni, jornalista e historiador; José Carlos Aleixo, doutor em Ciência Política; José Carlos Avellar, crítico de cinema; e pelo deputado federal Francisco Rodrigues (PFL-RR), presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Venezuela. Eles falam sobre o cenário político da Venezuela, o papel dos grupos de comunicação na tentativa de golpe, a influência dos Estados Unidos, a democracia na América Latina e as relações entre Brasil e Venezuela.

Outros filmes e vídeos foram produzidos para debater o assunto e até mesmo contra argumentar, criticar o que era veiculado nos grandes meios de comunicação.

Filmes como:

Otro modo es posible... en Venezuela
(85 minutos - Direção: Grabriele Muzio; Elisabetta Andreoli e Max Pugh)
(Em espanhol com legenda em italiano)




Este documentário fala das origens da situação social e política na Venezuela. Sua filmagem coincidiu com o aniversário de seis meses após o golpe de 11 de abril de 2002. Esta centra a sua atenção sobre a comoção causada pelo golpe e da reação popular que se seguiu, cuja força restabeleceu o poder do governo. Este documentário é uma homenagem calorosa e vigorosa para a consciência social e política do povo venezuelano e da sua determinação na defesa da democracia, da justiça e da paz. Este filme conta a história de outro mundo e outra forma que é não só possível mas já existem na realidade.


Venezuela, um mundo por ganar
(43 minutos - Direção: David Segarra)
(Em espanhol, sem legenda)


A revolução bolivariana vista do lado de dentro e pelo lado de quem está de fora.


Puente Llaguno, clave de una massacre
(105 mintuos - Direção: Ángel Palácios)
(Em espanhol)



Durante os protestos populares de apóio ao presidente em Puente Llaguno, 19 pessoas são assassinadas por franco-atiradores. Em uma excepcional montagem, os meios de comunicação da oposição apresentaram as mortes como vítimas dos círculos bolivarianos e de franco-atiradores do governo de Hugo Chávez. Esse documentário expõe algumas dúvidas razoáveis: Se a manifestação da oposição não passava por ali a quem disparavam essas pessoas? Se disparavam contra manifestantes desarmados por que e do que se protegiam atirando-se ao chão? O que aconteceu aos franco-atiradores capturados nos edifícios próximos? Por que muitos familiares das vítimas defendem os que dispararam alegando defesa própria enquanto os meios insistem só em nos mostrar a outra versão?


War on democracy
(96 minutos - Direção John Pilger)
(Inglês com legenda em espanhol)



Neste documentário John Pilger sugere que, mais além de levar a democracia ao mundo, como sempre o governo dos Estados Unidos propaga, na verdade ele faz de tudo para que isso não aconteça. O filme inclui agentes da CIA que revelam como eles propagam sua guerra particular na América Latina.

O filme não se restringe ao eventos ocorridos na Venezuela. Ele expande suas investigações para outros governos latino americanos que sofreram intervenção direta ou indireta dos EUA, mas usa uma grande do tempo do filme para ilustrar os acontecimentos venezuelanos, com informações que complementam muitas coisas que vimos por aqui. O filme, para mim, peca um pouco, as vezes, por ser muito dramático e aparentemente tendencioso demais. Mas vale conferir.


Esse post chega ao fim por enquanto. Ele receberá novas informações logo. E receberá revisões para que possíveis erros sejam corrigidos e melhoras sejam feitas. Qualquer sugestão, crítica, pergunta que queiram deixar, fiquem a vontade.

Para quem gosta de baixar filmes em torrent, seguem os links:

A revolução não será televisionada (legenda em português)

Venezuela, um mundo por ganar

Puente Llaguno, clave de una massacre

war on democracy (legenda em português)


os outros filmes não encontrei em torrent.


Após essa saraivada de material sobre os acontecimentos na Venezuela após abril de 2002, faça sua reflexão, debate e tire suas próprias conclusões.

Não tenho a mínima idéia do que fazer e do que tem que ser mudado nesse mundo. Mas prefiro agora dentro dessa minha confusão interna, usar uma frase do anteriormente citado José Saramago.

"Quantos delinqüentes existem no mundo? A violência já atingiu o nível da barbárie. A corrupção chegou a tal ponto que é um problema de linguagem. A palavra bondade hoje significa qualquer coisa de ridículo. É preciso conquistar, triunfar. Ninguém se arrisca a dizer que seu objetivo é ser bom. Querer ser bom em uma época como esta é se apresentar como voluntário para a eliminação. Como chegamos a isso?" Até que concluiu: "Para mudarmos a vida, é preciso mudarmos de vida."
(retirado do blog Sangue de barata)

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